sábado, 16 de fevereiro de 2008

RADIOBRÁS - AGÊNCIA BRASIL

27 de Janeiro de 2008 - 17h48 - Última modificação em 27 de Janeiro de 2008 - 17h48

Programa de rádio abordava
problemas do dia-a-dia de detentas

Morillo Carvalho
Repórter da Agência Brasil


Com vinheta tendo ao fundo a música Admirável Gado Novo, do cantor Zé Ramalho, toda semana, os moradores do município paulista de Votorantim, sabiam que começava um programa de rádio feito de dentro do presídio feminino da cidade.

A forma de ultrapassar os muros que cercam o Presídio Feminino do município possibilitou novas perspectivas de vida para as detentas. O programa Povo Marcado funcionava assim: uma equipe, formada pelos coordenadores, cuidava da produção fora do presídio.

A outra era composta pelas próprias presas, e cuidava dos detalhes quando o programa ia entrar no ar. Ele era veiculado por duas rádios comunitárias locais e uma parceria com a Câmara dos Deputados garantia a distribuição para qualquer emissora do Brasil, por meio da Rádio Câmara.

Vitória se encarregava da apresentação. Ex-operadora de telemarketing, aos 23 anos, está presa há um ano e meio e participava do programa desde que chegou na prisão.

“Minha vida melhorou bastante. É até uma forma de a minha família ter mais contato comigo. Para as demais [detentas], também. Foi uma forma de melhorar a nossa auto-estima”, avalia.

Mas o programa Povo Marcado saiu do ar e, se vai voltar, ainda não se sabe. É que, em 14 de dezembro do ano passado, elas promoveram uma rebelião que durou pouco mais de 12 horas. As transmissões foram suspensas.

Elas pediam a transferência de presas, que superlotavam o local. Idealizada para abrigar apenas 48 mulheres, a cadeia tinha cerca de 215. Antes da rebelião, o secretário de Cultura do município, Werinton Kermes, que idealizou e coordenava o programa, explicou a situação do presídio feminino de Votorantim.

“É uma diferença muito grande no número da capacidade e o de presas que ela [a cadeia] abriga. Isso causa muitos problemas para a cidade, por estar localizada no centro, e a gente, constantemente, assistia a rebeliões, queima de colchões, protestos de familiares. A secretaria de Cultura de Votorantim começou a pensar de que forma ela poderia incluir ações culturais para que a vida dessas encarceradas pudesse se tornar algo pelo menos suportável”, contou.

A superlotação sempre foi um problema por ali e o programa, segundo o secretário de Cultura e as próprias presas, ajudava a evitar conflitos e até mesmo rebeliões, que são pouco comuns entre as detentas.

Suspenso e sem prazo para voltar ao ar, o programa Povo Marcado foi o canal para que as presidiárias pudessem expressar a realidade interna das penitenciárias femininas, a mesma constatada por levantamentos do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), detalhados pela coordenadora do núcleo fixo da instituição, Luciana Zafalon.

“Hoje nenhuma espécie de direito é assegurado de forma hegemônica no sistema carcerário. No caso específico de visita íntima, para as mulheres, é um direito que é tratado como liberalidade, o que é inadmissível. A gente [ainda] tem um déficit muito grande de vagas de trabalho remunerado, e há que se esperar que o preso e a presa tenham condições de trabalhar”, cita.

O Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres é um projeto da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), que articula entre os ministérios a distribuição de R$ 1 bilhão de reais a serem gastos entre 2008 e 2011. Um dos pontos principais do pacto é a promoção dos direitos humanos das mulheres em situação de prisão. Em reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário em dezembro do ano passado, a ministra da SPM, Nilcéa Freire explicou como deve ser a distribuição da verba.

“Eles [os recursos] serão investidos a partir da cooperação com os governos estaduais. Cada governo que adere ao pacto formula um projeto integral para o estado, de acordo com os governos municipais, e nós financiaremos”, disse a ministra, explicando que, para cada área contemplada pelo pacto, há uma forma diferente de repasses.



http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/12/21/materia.2007-12-21.7509797467/view

RADIOBRÁS - AGÊNCIA BRASIL


3 de Dezembro de 2007 - 19h31 - Última modificação em 3 de Dezembro de 2007 - 19h31

Experiências do cárcere marcam
programa de rádio de detentas de Votorantim


Morillo Carvalho
Repórter da Agência Brasil



Brasília - O sobrenome, elas preferem não revelar. Tampouco o motivo pelo qual estão no Presídio Feminino de Votorantim, no interior de São Paulo. Mencionam apenas o número do artigo do Código Penal a que se refere o crime do qual são acusadas.

São mulheres que cumprem pena e, ao mesmo tempo, mantêm uma ocupação: semanalmente, elas produzem, de um estúdio instalado em uma das celas da prisão, o programa de rádio Povo Marcado.

A mensagem delas não é ouvida somente dentro da cadeia: duas rádios comunitárias do município transmitem o programa.

Além disso, por meio de uma parceria, a Rádio Câmara, da Câmara dos Deputados, disponibiliza o programa em seu site: www.camara.gov.br/radio. Qualquer cidadão ou emissora de rádio pode fazer o download do Povo Marcado.

Antes pautado apenas por assuntos internos, como a superlotação do presídio e a saúde das detentas, as entrevistas passaram a fazer parte e logo tornaram-se atração principal do programa.

Já passaram pela cela-estúdio artistas como Paulo Betti, ativistas como o padre Júlio Lancelloti, da Pastoral do Povo de Rua, além de médicos, promotores de Justiça e advogados.

Há cerca de dois meses, Vitória se encarrega da apresentação. Ex-operadora de telemarketing, ela tem 23 anos de idade e está presa há um ano e meio.

"Minha vida melhorou bastante. É até uma forma de a minha família ter mais contato comigo. Para as demais [detentas], também. Foi uma forma de melhorar a nossa auto-estima”.

Duas equipes operacionalizam o programa: uma, composta pelas presas, faz a parte interna do programa – tudo o que é necessário e que não pode ser feito fora do presídio.

A outra cuida da produção do lado de fora, como o contato com entrevistados e a viabilização para que eles se dirijam à cadeia. Quem cuida dessa parte são os coordenadores do projeto.

O secretário de cultura de Votorantim,Werinton Kermes, é o idealizador do projeto. Segundo ele, o presídio recebe presas de outros 75 municípios da região. Hoje, há 215 detentas, embora o local só comporte 48.

“O programa nasceu a partir da idéia de uma de nossas coordenadoras [da secretaria], a Luciana Lopez. Ela sugeriu fazer uma oficina de rádio para melhorar a comunicação entre as detentas e entre elas elas e as visitas”, conta. “O detento perde muito de seu vocabulário original, cria gírias, daí a necessidade da oficina".

O secretário diz que, como o interesse pela oficina foi grande, produziu-se muito material. Foi então que surgiu o Povo Marcado. No início de 2006, Kermes e Luciana procuraram a rádio comunitária de Votorantim para veicular o programa.

“A princípio, o programa gerou uma certa desconfiança e preocupação do público, até mesmo de autoridades. Conforme fomos mostrando que as meninas querem apenas se comunicar e ocupar o ócio de forma útil para a sociedade, as pessoas se convenceram de que as detentas têm potencial e condições de entrarem na casa das pessoas”.

Ele diz, ainda, que o programa também ajudou a diminuir o número de rebeliões. “Antes dele nascer, a gente assistia constantemente a rebeliões, queima de colchões, protestos de familiares”.

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/12/03/materia.2007-12-03.4490864264/view