sábado, 16 de fevereiro de 2008

RADIOBRÁS - AGÊNCIA BRASIL


3 de Dezembro de 2007 - 19h31 - Última modificação em 3 de Dezembro de 2007 - 19h31

Experiências do cárcere marcam
programa de rádio de detentas de Votorantim


Morillo Carvalho
Repórter da Agência Brasil



Brasília - O sobrenome, elas preferem não revelar. Tampouco o motivo pelo qual estão no Presídio Feminino de Votorantim, no interior de São Paulo. Mencionam apenas o número do artigo do Código Penal a que se refere o crime do qual são acusadas.

São mulheres que cumprem pena e, ao mesmo tempo, mantêm uma ocupação: semanalmente, elas produzem, de um estúdio instalado em uma das celas da prisão, o programa de rádio Povo Marcado.

A mensagem delas não é ouvida somente dentro da cadeia: duas rádios comunitárias do município transmitem o programa.

Além disso, por meio de uma parceria, a Rádio Câmara, da Câmara dos Deputados, disponibiliza o programa em seu site: www.camara.gov.br/radio. Qualquer cidadão ou emissora de rádio pode fazer o download do Povo Marcado.

Antes pautado apenas por assuntos internos, como a superlotação do presídio e a saúde das detentas, as entrevistas passaram a fazer parte e logo tornaram-se atração principal do programa.

Já passaram pela cela-estúdio artistas como Paulo Betti, ativistas como o padre Júlio Lancelloti, da Pastoral do Povo de Rua, além de médicos, promotores de Justiça e advogados.

Há cerca de dois meses, Vitória se encarrega da apresentação. Ex-operadora de telemarketing, ela tem 23 anos de idade e está presa há um ano e meio.

"Minha vida melhorou bastante. É até uma forma de a minha família ter mais contato comigo. Para as demais [detentas], também. Foi uma forma de melhorar a nossa auto-estima”.

Duas equipes operacionalizam o programa: uma, composta pelas presas, faz a parte interna do programa – tudo o que é necessário e que não pode ser feito fora do presídio.

A outra cuida da produção do lado de fora, como o contato com entrevistados e a viabilização para que eles se dirijam à cadeia. Quem cuida dessa parte são os coordenadores do projeto.

O secretário de cultura de Votorantim,Werinton Kermes, é o idealizador do projeto. Segundo ele, o presídio recebe presas de outros 75 municípios da região. Hoje, há 215 detentas, embora o local só comporte 48.

“O programa nasceu a partir da idéia de uma de nossas coordenadoras [da secretaria], a Luciana Lopez. Ela sugeriu fazer uma oficina de rádio para melhorar a comunicação entre as detentas e entre elas elas e as visitas”, conta. “O detento perde muito de seu vocabulário original, cria gírias, daí a necessidade da oficina".

O secretário diz que, como o interesse pela oficina foi grande, produziu-se muito material. Foi então que surgiu o Povo Marcado. No início de 2006, Kermes e Luciana procuraram a rádio comunitária de Votorantim para veicular o programa.

“A princípio, o programa gerou uma certa desconfiança e preocupação do público, até mesmo de autoridades. Conforme fomos mostrando que as meninas querem apenas se comunicar e ocupar o ócio de forma útil para a sociedade, as pessoas se convenceram de que as detentas têm potencial e condições de entrarem na casa das pessoas”.

Ele diz, ainda, que o programa também ajudou a diminuir o número de rebeliões. “Antes dele nascer, a gente assistia constantemente a rebeliões, queima de colchões, protestos de familiares”.

http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/12/03/materia.2007-12-03.4490864264/view

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