sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Coluna do Paulo Betti no Jornal Bom Dia em 31/08/2007


Cadeia

Paulo Betti


É muito difícil a situação das presidiárias. É óbvio. Cadeia não é lugar agradável

Amigos, no sábado passado, exibimos o filme “Cafundó” em São Miguel Archanjo e o local estava lotado. O povo ficou para o debate e foi maravilhoso. A presença da Banda Número 5, do maestro Pereira foi empolgante. No domingo, pela manhã, participei do programa de rádio gravado na Cadeia Pública Feminina de Votorantim e foi uma experiência muito forte.

O nome do programa é Povo Marcado.

A entrevista acontece na frente de todas as presas, as perguntas são feitas por elas, a entrevistadora é uma delas.

É muito bom que exista um programa assim, transmitido para mais de mil(!) rádios em todo o Brasil.

Quem me convidou para participar foi o incansável Werinton Kermes, Secretário de Cultura de Votorantim.

É muito difícil a situação das presidiárias. É óbvio. Cadeia não é lugar agradável. Olhar todas aquelas mulheres presas, algumas muito jovens e bonitas, num domingo pela manhã, não é a coisa mais agradável que existe. Mas é uma realidade. Elas estão lá. Nesse momento em que escrevo e você lê, elas estão lá. Muitas estão lá há muito tempo e ainda vão ficar muito mais tempo ainda.

O que vai acontecer com elas quando saírem? Será que conseguirão emprego? Conseguirão refazer suas vidas?

Porque elas foram parar lá? Serão todas culpadas? Qual é a nossa culpa? Qual é a parte que nos cabe?

Porque tem tanta gente presa no Brasil?

Até quando vamos achar que dá pra ficarmos por trás de grades nós também, mas grades que nos protegem?Você, caro leitor, não tem a sensação que a coisa vai explodir uma hora?

Aliás, está explodindo a todo o momento. Todo mundo me pergunta se não tenho medo de morar no Rio, que a cidade é muito violenta, que ouviu falar, que viu na televisão.

Mas que lugar não é violento?

Sorocaba não é? É segura, é tranqüila?

Vamos continuar cuidando de nossa parte sem nenhuma preocupação com a distribuição de renda em nosso País?

Não consigo achar que tudo é questão de cadeia, de construir mais presídios, etc.

Sei que o ser humano é complicado, mas tenho uma certeza também.

Umas 80% daquelas moças não estariam ali se nosso País tivesse dado mais chances a elas.

Todos nós também somos um pouco criminosos. Ou nunca pensamos em matar alguém? Se tivéssemos uma arma naquele determinado momento de raiva não poderíamos ter atirado?

Não somos fruto de educação, carinho em casa, boa comida?

Fiquei pensando um monte de coisa enquanto falava no microfone do programa Povo Marcado.

Pensei se tinha algum sentido estar ali. Eu do lado de fora das grades e elas presas lá dentro. O que mudava aquela realidade minha presença ali?

Passei uma hora e meia naquele lugar.

Recebi uma carta linda que uma delas escreveu na hora, letra firme, bem escrita. “...Sou uma sonhadora privada de sua Liberdade. Tenho 20 anos. Estou aqui há 9 meses. Tenho um único objetivo: Lutar e Vencer. Não quero nada, apenas que guarde este pequeno bilhete como uma lembrança de uma sonhadora. Fica com Deus e obrigado pela atenção e presença! Fé em Deus que ele é justo!” assinado Kuka.

Saí com a convicção de que tem que ter programa de rádio na cadeia sim! E também muitas outras coisas: bibliotecas, programas de televisão, cuidados com a saúde, espaço, carinho e tudo o mais. Parabéns ao pessoal que está desenvolvendo esse projeto na cadeia de Votorantim.

No mínimo ajudamos as presas a passar um pouco o tempo naquele domingo de manhã.
30/8/2007

2 comentários:

Geraldo Gomes disse...

Exceto esse LOUCO que vos escreve não existem seres humanos corajosos, capacitados e tampouco interessados em erradicarem essas e as demais violências cometidas no planeta terra e sabes por que?Porque a violência é uma indústria fabricada pelos seres humanos que gera lucros e que proporciona felicidades.O que estás fazendo para que não haja violência no planeta terra?Conheces algum local habitado por seres humanos que não haja violência?[Asseguro-te que a cidade citada no texto está repleta de violências].Conheces algum ser humano que não seja violento?Conheces algum homem ou mulher talentosa ou gênio na prática da não-violência?O que estás fazendo para que haja a PRIMEIRA ERA da não-violência no planeta terra?Somente os violentos são capazes de cultuarem e reclamarem da violência.Se vossos vínculos violentos derem-te algum tempo disponível acesse:www.geraldo-gomes.blogspot.com Depois de lêres todo conteúdo espero que compreendas de que nada fazes para o desativamento e o desarmamento da ARMA[o ser humano]mais letal e destrutiva do planeta terra.Ignorar-me é fácil,é comum.é natural e é normal,QUERO VIR IGNORARES A VIOLÊNCIA.Em relação a violência,SOMOS O QUE FAZEMOS E NUNCA DEVEMOS SERMOS O QUE NOS FAZEM.GERALDO GOMES.

Anônimo disse...

Não li esse seu blog (geraldo gomes)em todo seu conteúdo (o qual me pareceu bom, pelo pouco que li), mas pelo que entendi o senhor não "deves" acreditar muito na proposta do projeto de reestruturação presidiária no Brasil. Isso, claro, se é que existe algum. POrém, eu acredito que isso seja possível, mas creio que isso não ocorrerá se apenas apontarmos a violência que emana da sociedade e nada fizermos. É necessário agir, mesmo que minimamente, como por exemplo fez os que tiveram a iniciativa desse documentário. Sabem a história do beija-flor na floresta em chamas? É assim que eu vejo iniciativas como essa.
Congratulações a todos.. e continuem com esse projeto... Este sim é um ato de coragem que não pode parar..