terça-feira, 13 de outubro de 2009


16º Festival de Cinema tem noite
de estréia emocionante e (in) tensa


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07/10/2009 - 11:50



http://www.iteia.org.br/16-festival-de-cinema-tem-noite-de-estreia-emocionante-e-in-tensa


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Cerca de 250 pessoas compareceram ao Cine Teatro Cuiabá na noite de segunda-feira (05) para conferir a abertura do 16º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, que prossegue até o próximo domingo (11). O Cine Teatro Cuiabá sediar o evento foi uma das maiores conquistas do público presente, que viu seu patrimônio histórico-cultural ser privado de si durante mais de uma década, por problemas estruturais e administrativos.
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Mas a espera dos cinéfilos e da população não foi em vão. A estreia do 16º Festival no Cineteatro, um sonho duramente conquistado, não deixou a desejar, oferecendo uma programação que emocionou aos presentes e impressionou pela qualidade estética e ética. O mais interessante talvez tenha sido o fato de se reabrir a casa de espetáculos para aquilo que ela foi realmente projetada em sua fundação (ainda no governo Vargas): ser um cinema público, gratuito e de qualidade.
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A atual situação cinematográfica local não é das melhores e passa por uma difícil fase financeira. O próprio cerimonial do Festival chamou atenção para a dificuldade em ano de crise de se realizar o evento e a falta de incentivos no setor, que sobrevive graças aos esforços contínuos de seus realizadores e artistas, bravos persistentes que insistem em manter acesa a chama do audiovisual no Estado.
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E este fato foi bastante sentido pela plateia. A voz da classe cultural presente foi enfática em relembrar alguns episódios recentes, incluindo o próprio fato de somente após 15 anos de existência, o Festival consegue se realizar para aquela que é sua casa natural, verdadeiro e legítimo espaço do audiovisual. A personagem Almerinda (que fez sucesso no Brasil inteiro com a peça “Os Segredos de Almerinda”), do ator mato-grossense, André D’Lucca deu o tom bastante lúcido ao desabafo coletivo público-realizadores.
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Vestida de noiva, a personagem disparou: “Eu vim para me casar com o audiovisual. Já que ninguém o quer, eu caso com ele”. D’Lucca tem razão em tecer as críticas. Ele é um dos poucos realizadores locais que participam das mostras competitivas do 16º Festival. Nesta sexta-feira (9), o ator lança o primeiro longa-metragem de sua carreira. Trata-se de “Efeito Sanfona” (90’), produzido no Rio de Janeiro, que compete com outras seis produções nacionais na categoria longa-metragem.
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O trabalho é fruto de um intenso esforço pessoal de André D’Lucca, que operou milagres para realizar uma obra de qualidade, adequando-a a difícil realidade do mercado cultural local e nacional. A falta de incentivos no setor, obrigou o diretor a produzir seu filme com metade do orçamento mínimo necessário. Também não contou com patrocínio do poder público estadual e municipal.
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Superação - Mas nem tudo são dores. O que realmente superou todas as dificuldades enfrentadas pelo audiovisual e pelo próprio Festival, para conseguir manter-se vivo, foi a alta qualidade da programação (que neste ano reúne mais de 70 obras) e também a boa interação do público.
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O tema do Festival, “Astronomia, Arte e Tecnologia” que faz uma alusão aos 400 anos das primeiras observações astronômicas feitas por Galileu Galilei, agradou bastante e se revela de um toque sutil na tentativa de demonstrar que a arte, a cultura, a tecnologia e o cinema estão intrinsecamente ligados, interligados, entrelaçados e indissociáveis.
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A primeira obra exibida na noite de abertura foi uma deliciosa viagem de volta ao início do século passado, mas precisamente ao ano de 1902, com a projeção do clássico curta-metragem francês, “Viagem à Lua” (“Le Voyage dans La Lune” – 15’), do diretor Georges Méliès. O filme deu o pontapé inicial a ficção científica no cinema, demonstrando as possibilidades do ser humano conseguir viajar no universo intergaláctico, iniciando pelo nosso satélite natural.
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Isso significa dizer, que quase 70 anos antes do primeiro astronauta (Neil Armstrong) pisar na lua (1969), Méliès já fazia o mesmo no cinema. O toque especial local foi a participação do músico Danilo Bareiro, que acompanhou a projeção tocando no baixo uma trilha sonora original composta especialmente para o curta francês, que tem 15 minutos.
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Logo em seguida, a plateia vibrou com o som e as bonitas imagens do videoclipe (categoria exclusiva para obras locais) “Confissão Sem Culpa” (5’), da banda Branco ou Tinto, produzido por Leonardo Santana. Aliás, quem dá o tom nesta categoria, é o diretor, que também concorre com outros dois trabalhos: Vibração” (5’), da banda “Mandala Soul”, projetado na terça (06) e “Amazônia” (5’), do cantor e presidente do Conselho Estadual de Cultura, Johnny Éverson, a ser exibido na quarta (07).
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Léo Santana, também é um dos raros produtores mato-grossenses que, com muito esforço pessoal, vontade e trabalho, consegue se manter na cena audiovisual local. Na 14º edição do Festival (2007), ele apresentou ao público o primeiro curta-metragem “Parabéns Vítor” (15’), re-exibido às 15h desta terça-feira, na Mostra não competitiva “Curta Centro-Oeste”.
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Mais filmes - Outros três trabalhos exibidos na noite de estreia e que chamaram bastante atenção do público foram: o média-metragem “Povo Marcado”, de Werinton Kermes e Luciana Lopes (30 min) e os curta-metragens “Wenceslau e a Árvore Gramofone”, de Adaltberto Müller (15 min), e “Dossie Rê Bordosa” (16 min), de Cesar Cabral. O primeiro conta a estória de como presidiárias conseguiram manter a esperança, a partir da produção de um programa de rádio.
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Por sua vez, o curta de Müller tratou especificamente da cultura mato-grossense, apresentando um filme inspirado na poesia do cuiabano Manoel de Barros. A obra tem um cunho fortemente surrealista, com imagens bastante assemelhadas a do pintor francês desta mesma escola, Renè Magritte. A animação Dossiê Rê-Bordosa, por sua vez, trouxe um humor bastante ácido, relembrando de uma forma bastante sagaz como o Angeli o criador da personagem, matou sua própria criação.
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A última obra exibida na noite de estreia foi o emocionante “O Homem que Engarrafava Nuvens” (106 min), do diretor Lírio Ferreira. Concorrendo na mostra competitiva de longas-metragens, a obra trouxe a Cuiabá a atriz Denise Dummont (produtora), que o fez para conhecer e homenagear a obra de seu pai - Humberto Teixeira, um gênio da música nacional.
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O filme traz uma intensa busca pessoal de Denise em conhecer o próprio pai. Entrevistando grandes nomes da música nacional, alternando com as camadas mais populares da música brasileira, a produtora conseguiu comover bastante ao público que esperou pacientemente até o final da exibição.
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Mais sobre a programação pode ser encontrado no site http://www.cinemaevideocuiaba.org/ .

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