
Cadeia Pública Feminina de Votorantim/SP

Dra. Vilma Carmona Gonçalves (esquerda) é entrevista pela reeducanda Viviane (direita)
Assis Cavalcante/Agência BOM DIA
As presas têm a oportunidade de fazer perguntas ao entrevistado, no caso, Dom Eduardo Benes de Salles Oliveira De dentro da Cadeia Femina de Votorantim, a detenta Viviane Fernandes se transforma em apresentadora – com direito a sombra nos olhos e sapato alto –para conduzir um programa de rádio. Do outro lado das grades, outras “companheiras de sofrimento” assistem atentamente ao programa e são convidadas a fazer perguntas ao entrevistado.
Essa é a dinâmica do programa “Povo Marcado”, produzido pelas detentas da Cadeia de Votorantim, e que será veiculado na Rádio Nova Tropical FM da cidade, e também em rádio de Iperó e Araçariguama.
Coordenado pela Secretaria de Cultura de Votorantim, o programa tem como proposta principal mostrar um pouco da vida dessas mulheres por elas mesmas.
A idéia inicial é trazer entrevistados do meio judicial e político para debater a situação carcerária. Nesse ponto, a Cadeia de Votorantim se mostra um local propício, já que o espaço tem capacidade para abrigar 48 pessoas e está com 190.
A doutora em Comunicação Míriam Cris Carlos é a orientadora do projeto. “A idéia é que toda a pauta do programa surja das próprias reeducandas. Elas deverão definir os entrevistados e também as perguntas”.
“É a oportunidade da gente mostrar que não somos o que muitos pensam. Cometemos erros, mas não deixamos de ser seres humanos”, enfatiza a detenta Valdirene de Fátima Borges Gomes, responsável pela trilha sonora do programa.
Para a diretora da cadeia, Sueli Morales da Silva, o programa representa mais uma oportunidade de reintegrar as presas à sociedade. “É uma forma para que elas possam quebrar um preconceito social. Elas vão poder mostrar um outro lado, muitas vezes desconhecido da sociedade”.
Segundo o secretário de Cultura, Werinton Kermes, para participar do programa já foram convidados promotores, deputados e juízes. “Acho interessante. Porque essas pessoas sairão de seus escritórios e gabinetes para conhecer os anseios e problemas dessas mulheres”.
Segundo Kermes, a idéia agora é de conseguir outras rádios que tenham interesse em transmitir o programa. “Para dar mais voz a essas pessoas”, completa.
Liberdade para os talentos
Raquel Aparecida S. da Costa, Valdirene de Fátima B. Gomes e Viviane Fernandes estão na produção de “Povo Marcado”
Presa por tráfico de entorpecentes, assim como 85% das detentas da Cadeia de Votorantim, Raquel Aparecida Santos da Costa, que já foi locutora de rádio no Paraná, não disfarçava a ansiedade pela estréia do programa, que teve como primeiro entrevistado Dom Eduardo Benes de Salles Oliveira.
“Quando eu era locutora no Paraná era mais fácil. Agora é diferente. Temos que transmitir uma realidade totalmente diferente dos nossos ouvintes. Mostrar que aqui não é um depósito de gente e que a gente tem sim sentimento”.
E é esse lado humano e poético das detentas que Raquel deve colocar no programa. “Sou a caça talentos do projeto. Tem muita gente que escreve coisas lindas por aqui. Eu mesma adoro escrever. As pessoas não tem idéia do que é ver o céu, tão grande, apenas por um pequeno quadrado”, enfatiza.
Para ela, o programa representar mais uma esperança para as presas. “A gente sente resistência de algumas companheiras, pensam que o programa será apenas mais uma ilusão. A gente tem que batalhar para que não seja ilusão, mas oportunidade”.
Cobertura da imprensa na gravação do primeiro programa
Cobertura da imprensa na gravação do primeiro programa
Reeducanda Viviane entrevista o
Arcebispo Metropolitano de Sorocaba Dom Eduardo Benes